domingo, 8 de abril de 2012


Estaria em declínio o fluxo do turismo nas cidades estâncias hidrominerais?

  


Quem hospeda o forasteiro hospeda a Deus.
LEONARDO BOFF (*)


Para começo de conversa, algumas questões:
      Uma cidade turística pode ser vista como um produto?
Isso significa que uma cidade ou um destino turístico propriamente dito pode ter um ciclo de vida semelhante ao de produtos e, dessa forma, estar na moda em um momento e, em outro, não ser mais tão atraente e perder público visitante?

      Um produto turístico teria um ciclo de vida semelhante ao de produtos e serviços?
Pode-se dizer então que ele tem um desenvolvimento, um apogeu ou maturidade e uma fase de declínio?

      Poderíamos dizer que uma cidade ou um destino turístico pode ter um ciclo de vida semelhante ao de produtos - surgimento, crescimento, maturidade e declínio?
Uma cidade ou um destino turístico pode promover uma reciclagem, isso se houver investimento em marketing, buscando um novo foco de negócios. E, se preciso for, reinventando o seu conceito.

Um começo voltado para a saúde
As cidades denominadas estâncias hidrominerais e as climáticas tiveram um ciclo de desenvolvimento inicialmente focado em cura: as pessoas procuravam os efeitos medicinais de suas águas minerais ou de seu clima. Ficaram famosas:  São Lourenço, Caxambu, Cambuquira; Águas de Lindóia, Serra Negra, Águas da Prata, Águas de São Pedro, Campos do Jordão.

Hoje se incluem como cidades climáticas quase todo o circuito da Serra Mantiqueira, aonde despontam as cidades paulistas de Santo Antonio do Pinhal, São Bento do Sapucaí, São Francisco Xavier;  as fluminense: Penedo, Itatiaia e Visconde de Mauá; e ainda a mineira  Monte Verde.

Houve um segundo momento em que as cidades estâncias balneárias (estações de água, montanha e litoral), além da cura, se apoiaram em jogos de azar, apelando para os cassinos que ainda hoje florescem em alguns países do Mercosul.  Naquele tempo, havia cassinos famosos no Brasil, como o da Urca, no Rio de Janeiro, referencia por seus shows internacionais. Quase toda cidade de turismo ou veraneio tinha o seu cassino: Poços de Caldas, Santos, Guarujá, Águas de São Pedro, Águas de Lindoia.

Com a proibição do jogo no Brasil nos anos 50, muitas dessas cidades buscaram outras formas de se manterem na moda, tentando evitar o declínio. Passaram então a sediar eventos, congressos, reuniões empresariais; criaram festivais de musica clássicas no inverno e popular ou sertaneja no verão; festivais de cinema, literários, gastronômicos, de teatro, musica popular...

Os melhores exemplos desses esforços são: o festival de musica clássica de Campos do Jordão; o FLIP – Festa Literária Internacional de Paraty; os festivais de cinema de Tiradentes e o de Gramado, onde também acontece o resplandecente Natal Luz (considerado a maior festa de Natal do mundo).

São destaque ainda as festas populares: as juninas do nordeste, sobretudo em Campina Grande e Caruaru; os carnavais de Salvador e do Rio de Janeiro; as religiosas, como o Círio de Nazaré e a de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil; Festival de Parintins, na Amazônia.

Hoje estamos diante de desafios econômicos e políticos, que exigem coragem, recursos públicos e privados, criatividade e uma boa dose de marketing, para manter o fluxo de turistas não apenas ao longo de um ano, mas de muitos anos, evitando que o destino turístico  entre em declínio.

REFERÊNCIAS
(*) BOFF, Leonardo. Virtudes para um outro mundo Possível,  Volume 1 – Hospitalidade. Editora Vozes. Petrópolis, 2005.

Marcos Cobra é professor da Universidad De La Empresa (UDE), Montevidéu, Uruguai; presidente do Instituto Latino-Americano de Marketing e Vendas (Ilam), São Paulo, SP; palestrante e consultor, pós-doutorado na University of Texas System (UTS), Estados Unidos; mestre e doutor em Administração de Empresas pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, onde foi professor e chefe do Departamento de Marketing; homenageado no Mkt Best 2011 pela sua contribuição ao marketing brasileiro como professor e profissional. Autor de Livros como: Marketing de Turismo, Planejamento de Marketing, Marketing de serviços; Sexo & Marketing – todos pela Cobra Editora. <marcos-cobra@uol.com.br>, <http://www.ilam.com.br/>.

sexta-feira, 6 de abril de 2012


O Turismo Como Alternativa Para o    

Desenvolvimento    Econômico


Muitas cidades brasileiras, antes focadas na agricultura e na indústria, hoje dependem de serviços de turismo – seja ele religioso, de saúde, negócios, lazer e outras formas - para sobreviver e prosperar.

 Há casos em que a industrialização tem sido evitada, uma vez que a sustentabilidade impõe restrições a atividades que provocam poluição ou comprometem o uso do espaço.

 No mundo inteiro, as receitas produzidas pelo turismo representam valores inestimáveis para a balança de pagamentos de um país, ou mesmo para um município. Quando um turista visita uma cidade, ele consome uma série enorme de serviços, como alimentação, hospedagem e entretenimento, além de realizar compras que movimentam o comércio local. 

 

E os estabelecimentos que prestam serviços ao turista recolhem, sob a forma de  impostos diretos ou indiretos,  valores apreciáveis que engordam a arrecadação de uma cidade.  O turismo, chamada indústria limpa, que não polui, provoca o aumento do lixo, em momentos de maior afluxo de pessoas. Mas as receitas obtidas nos hotéis, restaurantes, lojas e no setor de entretenimento costumam ser compensadoras, tanto financeiramente, para os detentores do capital, quanto para os trabalhadores, com a geração de empregos.

 

O momento da profissionalização

 

Um turista está sempre em busca de benefícios: não é apenas o que o lugar oferece, por exemplo, em termos de beleza natural. Devemos sempre considerar o que ele espera receber em contrapartida ao investimento que ele realiza: é o que denominamos valor percebido pelo turista. Isso implica dizer que o ônus da aquisição do serviço de turismo não pode superar o bônus da satisfação que o lugar proporciona. Aqui começam as atividades profissionais de marketing de turismo: é preciso conhecer em detalhes o que o turista deseja, o que ele espera do destino que escolheu.

 

A satisfação do turista deve ser a grande meta de qualquer cidade ou destino turístico. Sem o turista de cura e o turista do jogo, ficou difícil, para muitas cidades buscar um novo DNA para sobreviverem.

Algumas buscaram intensamente outras formas de sobrevivência. Uma grande maioria foi tentar a industrialização, sobretudo baseada no artesanato variado, como em couro, cerâmica, porcelana, madeira  ou vestuário, para resgatar um fluxo turístico mínimo para  evitar o declínio acentuado na sua capacidade de gerar caixa e manter em níveis adequados a economia local e a oferta de empregos.

No nordeste, o turismo sexual foi a saída encontrada por algumas cidades para atrair turistas, principalmente do exterior: além de condenável, tem sido uma prática extremamente inadequada que compromete a imagem do país.

Há um fato comum nessas cidades:  pode-se dizer que quase todos os destinos turísticos brasileiros passaram a sediar além de eventos de negócios, também aqueles religiosos, de negócios, congressos e diversos festivais.

A criatividade para atrair o turista foi intensamente posta à prova com festivais: cinema, literatura, gastronomia, teatro, musica clássica e popular e uma série de outros eventos.

Pesquisa


Ainda falta a muitas cidades uma adequada estrutura de marketing para descobrir o que turista quer e espera receber para, a partir daí, desenvolver com eficácia uma oferta sedutora de serviços.
Isso implica investimento em pesquisa de mercado, para identificar o público alvo adequado, segmentando a oferta de produtos em conformidade com a expectativa de consumo.

Porém, só isto não basta: é preciso também posicionar o produto turístico na mente do consumidor. Seja por meio da comunicação tradicional, como revistas, jornais de turismo e televisão; seja por meio das redes sociais.  A criação de pagina no Facebook e manutenção do twiter são atividades nem sempre fáceis, além de exigir muitos cuidados e atenção.

Construir uma imagem leva muitos anos. Portanto, é preciso zelar para que a imagem da cidade não fique arranhada por algum acidente ou incidente. O esforço de construção de uma imagem deve ser diuturno e precisa envolver as comunidades sociais, empresariais e entidades em geral. Todos os eventos que ali se realizam contam pontos, na somatória da imagem do lugar.

De tanto ouvir falar, ver ou ler, o turista vai construindo em sua mente uma visualização do que tem para ver nesse lugar e que nem sempre corresponde à realidade.  E assim, quando o imaginado não bate com o real, surge uma frustração. Ao mesmo tempo, é sempre bom deixar um gostinho de quero mais...  para que ele volte.