domingo, 13 de maio de 2012



Até que ponto as empresas devem levar em
conta a sustentabilidade?



Marcos Cobra*

Há um discurso de proteção ambiental e preservação de valores sociais, éticos e ecológicos que nem sempre tem sido eficaz para interromper o desequilibro devastador originário de um ganho exacerbado com base em desmatamentos, poluição ambiental e outros deslizes, numa sociedade cada vez mais consumista.

O interesse econômico tem prevalecido em relação à consciência dos malefícios que o uso excessivo e sem controle dos recursos naturais causa à humanidade.

A consciência, se é que ela existe, está focada no pressuposto de que os fins justificam os meios. E, assim, é comum uma cidade aprovar a instalação de uma indústria química poluidora na presunção de que ela gerará empregos para o município. E é muito comum esta empresa poluidora gozar de isenções tributárias e fiscais.
Apesar de isso parecer coisa de antigamente, podemos encontrá-las na mente de políticos e empresários oportunistas e sem escrúpulos.
Hoje, a consciência do consumidor reprova a utilização agrícola do solo com a adoção de agroquímicos, usados para combater as pragas, mas nocivo à saúde humana e ao mundo animal e vegetal quando utilizados inadequadamente. Há ainda o caso das sementes geneticamente modificadas (transgênicas) que permitem uma superssafra agrícola, mas que ainda provocam polêmicas quanto ao seu uso.
E há também questões globais: fatores que causam danos ao clima dos países, como o aquecimento global, têm sido muito debatidos em conferências de clima, como a de Kyoto no Japão. E há países, como os Estados Unidos, que se negam a seguir os conselhos preservacionistas. Mesmo no Brasil, pouca prática existe sobre a adoção da política de cotas de carbono que cada cidadão poderia utilizar na compra de um carro, isso se ele não se dispuser, em contrapartida, a plantar certa quantidade de árvores ao ano.
Na Europa, o anúncio de carros vem com a informação da cota de carbono, que cada comprador deverá dispor para a compra e o uso daquele veículo. No Brasil, os aparelhos elétricos vêm com valores de consumo, com uma etiqueta informando quanto de energia ele consome, se é econômico ou não. Contudo, os institutos de pesos e medidas, muitas vezes, comprovam que as cifras informadas não correspondem ao consumo real daquele aparelho. Isto fere a ética da informação. Além disso, o consumidor brasileiro costuma desprezar informações importantes sobre os produtos, como essas questões energéticas.
Eletrodomésticos terão que ser mais econômicos
Marcas de sucesso, como Brastemp, Consul e Eletrolux, entre outras, terão que modificar seus eletrodomésticos se não quiserem perder consumidores.
“Com a nova classificação de consumo de energia do Inmetro (instituto que mede os desempenhos de produto), aparelhos como geladeiras e condicionadores de ar, que hoje recebem nota A (mais econômico, em uma escala que vai até E), mudam de classificação.”
Hoje, 80% dos eletrodomésticos vendidos no país são nota A. Com o aperto do Inmetro, este número cairia para 40% se nenhum fabricante se mobilizasse para adequar seus produtos. Uma pesquisa do instituto mostra que 78% dos consumidores são influenciados pela classificação na hora de escolher aparelhos. (Folha de S.Paulo, caderno B Mercado, 1/10/2011, p.C1.)
O novo consumidor e o marketing da sustentabilidade
Ainda engatinhamos na preservação dos valores éticos e ambientais e, portanto emergem alguns dilemas empresariais:
– Vale a pena se investir em sustentabilidade?
– Até que ponto o consumidor está disposto a pagar mais por produtos ecologicamente corretos?
– O que se perde em rentabilidade pode ser compensado com o que se ganha em imagem de sustentabilidade?
– Poluir pode ser um bom negócio financeiro?
– Não poluir pode significar redução de lucros, nem sempre compensados com os ganhos na imagem da marca do produto?
Diante de dilemas como esses, muitas empresas retardam a produção de produtos ecologicamente corretos, pois a impunidade pode compensar.
Mas a humanidade caminha na contramão de interesses financeiros de empresas que provoquem danos à coletividade.
É possível que o novo consumidor ainda não esteja totalmente consciente dos seus direitos e dos riscos que a exploração de recursos naturais pode causar à qualidade de vida das pessoas. Porém, cada vez mais, o novo consumidor é esclarecido no que diz respeito ao conteúdo dos produtos, embora ainda se preocupe mais com valores monetários totais. Mas, ele já começa a criar consciência do erro socioambiental cometido por uma etiqueta.
As empresas que não perceberem que os tempos estão mudando, e que isto exige maior comprometimento com a sustentabilidade do planeta, tendem a se transformar em enormes dinossauros, candidatos a extinção.
* Marcos Cobra é professor da Universidad De La Empresa (UDE), Montevidéu, Uruguai; presidente do Instituto Latino-Americano de Marketing e Vendas (Ilam), São Paulo, SP; pós-doutorado na University of Texas System (UTS) Estados Unidos; mestre e doutor em administração de empresas pela Fundação Getulio Vargas, em São Paulo, onde foi professor e chefe do Departamento de Marketing; homenageado no Mkt Best 2011 pela sua contribuição ao marketing brasileiro como professor e profissional.
PUBLICADO NA REVISTA DIGITAL ENVOLVERDE EM 28/02/2012
http://envolverde.com.br/economia/empresas/ate-que-ponto-as-empresas-devem-levar-em-conta-a-sustentabilidade/


sexta-feira, 4 de maio de 2012


Falta muita coisa para a Copa de 2014  

e há oportunidades para todos



A Copa do Mundo de Futebol de 2014 é, provavelmente, um dos melhores pretextos para o Brasil se transformar naquilo que o jargão internacional chama de “uma grande nação”. Segundo Arnold Toybee, historiador inglês costumava dizer: “Um país só se transforma em uma grande nação quando enfrenta um desafio: uma guerra, uma catástrofe, uma grande epidemia...” e... nós acrescentamos, “uma competição de grande porte”.

Na verdade, os problemas são uma grande oportunidade para organizarmos a nossa vida interior e nos tornarmos melhores do que somos como seres humanos. Se costuma ser assim para pessoas, porque não para países? Pois tem sido dessa forma com os países que souberam se aprimorar com base na preparação para grandes eventos, principalmente, esportivos.

Esse fenômeno vem acontecendo há muitos séculos.

Desde meados de 2500 a.C., os gregos faziam homenagens aos deuses, principalmente a Zeus, realizando competições esportivas. Não se sabe exatamente quando o evento se consolidou, passando a acontecer de “quatro em quatro anos, no Peloponeso, na confluência dos rios Alfeu e Giadeo, onde se erguia a cidade de Olímpia que, a partir do ano 776 a.C., cedeu seu nome para aquele que viria a ser a maior competição esportiva em toda a história da humanidade, os Jogos Olímpicos [...], que teve como primeiro vencedor o atleta Coroebus, cingido por uma coroa trançada por folhas de louro, único prêmio e símbolo da maior vitória”.([1])

Desde aquela época, grandes mudanças aconteceram nas cidades. Não foi diferente na primeira Olimpíada dos tempos modernos, em abril de 1896, também na Grécia, mas em Atenas. Também houve a reformulação de Barcelona para a Olimpíada de 1992, a Copa do Mundo de 2010 na África do Sul.

Todos ganham

Os investimentos em infraestrutura privilegiaram não apenas os esportes, mas diversos aspectos das cidades: transportes, hotelaria, turismo, estádios e demais aspectos da urbanidade.

O Brasil prosperou nas últimas décadas e está hoje entre as 10 maiores economias do mundo. Mas, apesar disso, ainda prevalecem os contrastes sociais, a má distribuição de renda com uma miséria típica de país subdesenvolvido. Apesar da diminuição do analfabetismo, ainda grassa em muitas regiões do País o semi-analfabeto, também conhecido como analfabeto funcional, aquele que apenas sabe escrever o nome. A educação é um dos pilares do desenvolvimento social e econômico de uma nação, mas muito ainda precisa ser feito, sobretudo no ensino profissionalizante de segundo grau (aquele que prepara o jovem para o exercício de uma profissão).

Com a chegada da Copa, ainda falta muita coisa: faltam aeroportos para receber a massa de turistas, faltam ofertas de vôo, faltam aviões e companhias aéreas melhor estruturadas, faltam hotéis, faltam hospitais, faltam estradas de ferro e de rodagem. Falta muito... e só não vê quem não quer. Infraestruturar um país é um investimento de médio em longo prazo; e a educação também.

INFRAESTRUTURA

“Brasil é reprovado em infraestrutura” diz título de uma reportagem de O Estado de S. Paulo.[2]

“A qualidade da infraestrutura brasileira é das piores do mundo, mesmo com a arrancada dos investimentos nos últimos quatro anos. As informações são de um estudo inédito da LCA Consultoria, cuja fonte foi o relatório de competitividade 2009/10 do Fórum Econômico Mundial, em Genebra, na Suíça.” A avaliação é feita por empresários e especialistas de cada nação. No Brasil, 181 questionários foram respondidos”.

“Comparado a outros 20 países, com os quais concorre no mercado global, o Brasil ficou apenas na 17.ª colocação no quesito qualidade geral da infraestrutura, empatado com a Colômbia. Numa escala de 1 a 7, o País teve nota 3,4, abaixo da média mundial, de 4,1. A má qualidade das estradas, portos, ferrovias e aeroportos brasileiros não chega a ser novidade. Mas faltava uma comparação internacional que desse uma noção mais clara de quão atrasado está o País.”

“A distância que separa o Brasil das primeiras posições é enorme. A França, que ocupa o topo da lista, teve nota 6,6, seguida de Alemanha (6,5) e Estados Unidos (5,9). Entre as outras nações que deixaram o País na rabeira, estão o México, a China, a Turquia, a África do Sul e o Chile.”  

O único quesito de destaque positivo do Brasil foi a qualidade da oferta de energia. Com nota 5,2 ela ficou acima da média mundial de 4,6. Portanto, a expectativa é de que a Copa de 2014 atraia investimentos governamentais e privados. País deve receber R$ 540 bilhões em investimentos. Resta saber se esse valor será suficiente para minimizar os contrastes entre as rodovias no Estado de São Paulo, padrão superior ao de países mais desenvolvidos, e no Maranhão, por exemplo, com padrões que igualam ao baixo nível de Moçambique.

AEROPORTOS

Há deficiências em diversos deles. Em São Paulo, por exemplo, é preciso construir um novo aeroporto, criar novos terminais e mais uma pista para pouso e decolagem no aeroporto internacional de Guarulhos (Cumbica). O mesmo sucede com Viracopos, na região de Campinas. Sobre o aeroporto de Congonhas, nem se fala: o aeroporto central de São Paulo foi comprimido após o acidente com o avião da TAM, em julho de 2007, e já não comporta a demanda atual, o que se pode dizer da demanda da Copa?

COMPANHIAS AÉREAS

Faltam sistemas operacionais mais modernos e confiáveis, além de mais aeronaves e investimentos em equipamentos e suportes de manutenção. Falta, sobretudo, treinamento de Gestão de Voo para a tripulação. Uma aeronave é apenas uma parte do detalhe de um conjunto importante de uma viagem. O voo precisa ser gerido como um fato em que a “andança seja tão ou mais importante que a chegança”. O voo deve ter um entretenimento a bordo, deve ter pessoas que expressem o “prazer de servir”... É preciso desenvolver novas competências nos tripulantes de voo.

HOTÉIS E NAVIOS

É preciso investimento na construção de novos hotéis nas cidades sede. Antes que ocorra um apagão hoteleiro. Mas, a operação de um hotel deve ser vista como um dos principais desempenhos do teatro da Copa. Será ali que o turista se encontra com a realidade do conforto e do bom serviço. É a “hora da verdade”. Os hotéis, assim como as cidades, devem investir mais em entretenimento. Convenhamos, as quatro paredes de um quarto são de uma chatice de “arrepiar”...

Os antigos hotéis de estâncias climáticas possuíam uma oferta de lazer que hoje é copiado apenas em parte por hotéis fazenda ou pelos resorts mais badalados. Mas falta muito, de infraestrutura hoteleira à magia de um serviço impecável e inesquecível. O nosso parque “Disney” é o Águas Quentes, em Goiás. Ou o Beach Park, em Fortaleza.

Aliás, por falar em água, muitos navios deverão estar mobilizados como hotéis, nas cidades à beira-mar, sedes ou próximas de sedes da Copa. E aí o know-how de entretenimento a bordo já está desenhado.

HOSPITAIS

Com uma massa de turistas externos e internos, o suporte de saúde dessa enorme população flutuante deverá contar com um número de hospitais suficientes para atender a uma eventual demanda emergencial. Serão necessários infraestrutura e pessoal treinado e altamente qualificado, pois, nos momentos imprevistos é que se revelará a verdadeira competência do anfitrião da Copa. Os hospitais, assim como os hotéis, disputam a preferência de clientes e fornecedores, com um marketing equivocado que pressupõe que o serviço é comprado e não vendido.

Os planos de saúde se tornam mais vendáveis na medida em que incluam em sua lista os hospitais mais procurados ou valorizados pela excelência em seus serviços. Mas falta boa gastronomia e algum tipo de lazer para o acompanhante de pessoas enfermas. Afinal, os hospitais nada mais são do que hotéis para saúde.

ESTRADAS

A maioria das nossas estradas não oferece um mínimo de segurança, quer pelo traçado de suas pistas, quer pelo suporte logístico para atendimento de acidentes. Contudo, as estradas precisam oferecer suporte e áreas de descanso, com algum tipo de lazer rápido. Na Flórida, as estradas que levam aos parques temáticos de Orlando, possuem nas áreas de descanso para o viajante, um apreciável cardápio de opções gastronômicas, além de agências de turismo que vendem desde entradas para os parques até um variado número de ofertas de lazer. É copiar o que existe de bom e, se possível, com a criatividade do brasileiro, inovar.

METRÔ E ESTAÇÕES DE TRENS SUBÚRBIO

Alguns trens já circulam com uma programação visual em monitores de TV, mas ainda é pouco. Nas estações, há pouca oferta de lanches rápidos, de serviços de consertos de relógio, saltos de sapato feminino, lavagem de roupa. Quantos serviços podem ser oferecidos nessas estações.

CIDADES SEDE DE JOGOS DA COPA

Será uma oportunidade rara para a cidade ser reinventada. Oferecer gastronomia variada, shows, teatro, cinema de qualidade são apenas algumas das condições para entreter o turista no intervalo dos jogos. Os museus e os pontos de atração turística devem estar renovados e impecáveis. As ofertas devem estar apoiadas em estratégias de marketing que valorizem a oportunidade de “ficar na cidade”.

CIDADES VIZINHAS ATÉ 200 KM DAS CIDADES SEDE DA COPA

Essas cidades devem se tornar competitivas desde já. Precisam “rever o seu cardápio” de ofertas de hotelaria, recantos turísticos, gastronomia e lazer. É preciso inovar, ou seja, é preciso “re-inventar” a cidade.

EDUCAÇÃO

Ensino profissionalizante: guias de turismo, motoristas cicerones, babás, garçons, vendedores, arrumadeiras, cozinheiros e um sem número de pessoas a serem treinadas. Dentre os cursos que ganharão importância, destacam-se: Turismo, Hotelaria e Gastronomia; Varejo e Vendas; Jornalismo, Relações Públicas e Comunicações.

É começar já para estar pronto quando chegar a hora. Porque quem deixar para a última hora vai se dar mal. Serão milhares de pessoas à espera de bons serviços.


REFERÊNCIAS