O declínio da qualidade de vida nas grandes cidades
– um desafio
Estaríamos vivemos em um enorme gueto?
Professor Marcos Cobra
Mobilidade urbana.
Na medida em que a
mobilidade urbana se torna caótica, pelo transito emperrado, e pela crescente
insegurança das cidades a vida das pessoas se torna limitada e com menor
liberdade.
A vida em condomínios
fechados, inspira uma segurança
ilusória, mas serve para um confinamento que cerceia a sociabilidade das
pessoas. “Homem algum é um ilha”...
A cidade de S.Paulo, por
exemplo, se expandiu além das fronteiras dos seus três rios que cortam o
município, mas ainda tem enorme dificuldade de locomoção para dentro e fora dos
seus limites. Esse confinamento é histórico, desde a época de isolamento da
zona norte da cidade, que dependia de acesso pela ponte das Bandeiras e pelos
trilhos da extinta estrada de ferro da Cantareira que da ponte Pequena ia até
Jaçanã, bem depois de Santana, atravessando o Horto Florestal e destacado no
samba do Adoniran Barbosa: “O trem das onze”...
“Sou filho único, e moro
em Jaçanã, e se eu perder esse trem que sai agora às onze horas, só amanhã de
manhã”...
Era pegar o trem ou não
ter como chegar a casa. Hoje, os limites são decorrentes dos engarrafamentos
sobretudos nos horários de pico, pela manhã do bairro para o centro e no
sentido inverso no final do dia. Mas o engarrafamento já não tem hora, nem
ponto da cidade.
Viver isolado das outras
pessoas de uma comunidade, não é saudável. Hoje as pessoas se comunicam cada
vez mais a distancia, seja pelo celular, por mensagens de texto, redes sociais ou por emails.
Como o recurso tempo tem-se
tornado escasso, a sociedade tem cada vez menos tempo livre. Vivendo
isolado, em engarrafamentos, ou em
condomínios fechados, o ser humano está se tornando um cidadão de segunda
classe. Usufruindo pouco ou quase nada do que a sua cidade oferece, as pessoas
fazem do bar ou restaurante, ou academia a sua pausa para o ilusório lazer.
Dessa
maneira, a sensação que se tem é de que vivemos em um enorme gueto, a cada dia
com um espaçamento menor para se viver.
A ausência de mobilidade
urbana em diversas cidades do país está
escancarando nossas deficiências agora
com maior intensidade revelada na mídia em
função da Copa Mundial de Futebol a se realizar em 2014.
E por que isso acontece?
Sobretudo porque falta uma
gestão publica com uma visão integrada do negócio chamado qualidade de vida.
Mas isso não se deve exclusivamente ao gestor publico que atravanca o progresso
com a ausência de investimentos em infraestrutura, no ritmo que as cidades
exigem. Isso faz parte também da cultura
do medo, e da fobia generalizada, como se vivêssemos em guetos.
A maior crise que vivemos
é porque falta competência gerencial em
diversos níveis, não só no setor público. Mas é também uma doença psicológica
estimulada pela excessiva divulgação de noticias ruim.
Gestores públicos mesmo privados, tem uma visão simplista e
imediatista, nesse nosso país não se pensa em médio e longo prazo, e, portanto,
os investimentos realizados, sobretudo habitacionais visam exclusivamente o
curto prazo, aonde o lucro rápido é o principal objetivo do empresário
imobiliário, e o gestor publico adota quase sempre medidas paliativas para ter
visibilidade junto ao eleitor.
Mobilidade interurbana
Mas o cidadão não está
confinado apenas na cidade em que vive, mas também tem dificuldade de se
deslocar para outras cidades, quer por rodovias saturadas e mal cuidadas ou
ainda por um transporte aéreo caro e inacessível, já que o transporte
ferroviário interestadual inexiste.
Em nome da eficácia
gerencial, as companhias aéreas estão cortando funcionários e rotas, ou seja, diminuindo a oferta de
assentos, para as pessoas circularem pelo país (vide Valor Caderno Empresas 28
de março 2012 p.B1: Gol enxuga malha após prejuízo de R$751 milhões – Alberto
Komatsu).
Em função de um prejuízo
recorde de R$ 751 milhões a Gol Linhas Aéreas Inteligentes está reduzindo sua
operação total em 8 a 10%, ou seja, entre 92 e 115 voos de um total de 1.150
voos diários, que ela e a sua subsidiária Webjet realizam. Pode parecer um
valor insignificante, mas com a diminuição da oferta de voos, muitas pessoas
tendem a ficar no solo, sem disponibilidade de se deslocar, com a frequência e
conveniência desejada, ou se sujeitar a gastar mais.
Bem cabe aqui um
comentário que se tornou um jargão, “se agora está assim, imagine na Copa
Mundial de Futebol de 2014”
Sem perspectiva de solução
no curto e no médio prazo, as pessoas das cidades vão se ajeitando para viver
como podem, mas a cada dia mais estressadas.
Mas não é só, a nível
metropolitano. A nível regional e até mesmo nacional, a coisa também não anda bem. Os aeroportos são poucos e
restritos, e muita cidade de médio porte não tem campo de pouso para aeronaves maiores realizarem voos comerciais.
Criada na esteira do
pós-segunda Grande Guerra, a aviação comercial brasileira logo deslanchou
ao se privilegiar, de um lado dos aviões norte-americanos Douglas modelo DC3 sucatas de guerra e de outro das muitas
pistas de pouso que foram abertas para dar lugar a inúmeros aeroclubes , para a
formação de pilotos. Isso se deu nos anos pós-guerra, mediante uma intensa campanha do jornalista Assis
Chateubriand, fundador da rede de comunicação e jornais Diários Associados. Esse
esforço foi possível, pois havia uma nascente indústria aeronáutica criada pelo
empresário Baby Pignatari, produziu-se no país os famosos aviões monomotores de
2 a 4 lugares, com armação de tubo de aço revestido com uma tela do tipo lona.
Era o avião Paulistinha, produzida pela CAP – Companhia Aeronáutica Paulista.
Nessa época a CAP chegou a produzir aviões de tubo e tela para até 12
passageiros. Um exagero, sem dúvida. Mas foi graças ao sonho de dois
empresários um industrial e outro jornalista que o país se viu integrado pelas
asas da aviação.
Hoje, no entanto se voa
para menos localidades do que há seis décadas atrás. Muitos aeroportos foram
abandonados e outros não foram modernizados para receberem aviões de médio para
grande porte. Nos anos cinquenta, até mesmo municípios com menos de 10.000
habitantes, sobretudo cidades das estâncias turísticas, de Minas Gerais: São
Lourenço, Poços de Caldas, são exemplo de ligações com o Rio de Janeiro e São
Paulo. Havia nesse período voos regulares de diversas empresas aéreas como
Nacional Linhas äereas, Lóide Aéreo, Varig, Real, Aerovias e outras mais.
Ligando o interior de S.Paulo, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina (a Sadia
Transportes Aéreos foi criada para transportar lingüiça de suas fabricas em
Chapecó para S.Paulo); de Minas Gerais, Bahia, e todo o nordeste e norte do
país.
O isolamento a que muitas
cidades são submetidas, não se deve apenas a falta de transporte aéreo ou
ferroviário, se deve não apenas a ausência
de infraestrutura, mas também e principalmente a falta de gestão publica e até
mesmo privada.
A maior crise que o país
vive é a de ausência da noção de competência e competitividade.
Não apenas os gestores
públicos tem uma visão simplista e imediatista. Pois nesse nosso país não se
pensa em médio e longo prazo, e, portanto, os investimentos realizados visam
exclusivamente o curto prazo, para ter visibilidade junto ao grande público.
Em nome da eficácia
gerencial, as companhias aéreas estão cortando pessoas e rotas, ou seja, diminuindo
a oferta de assentos, para as pessoas circularem pelo país. Como o transporte
ferroviário inexiste, o que resta um transporte rodoviário massacrado pela
péssima condição das estradas estaduais, municipais e federais.
As megacidades
As megacidades massacram
as pessoas em nome do progresso.
Na ausência atual de
planejamento e adequada gestão metropolitana, diversas mazelas tem tornado a
vida nas grandes cidades um martírio, para quem vive e para quem circula
eventualmente, como o turista desavisado.
O futuro das Megacidades.
Há um consenso de que é
preciso se estabelecer um marco regulatório para se estabelecer projetos
metropolitanos, no que diz respeito à gestao de ação política e a capacidade de
investimento. Como tradicionalmente as cidades não dispõem de recursos
suficientes para investir, eles são dependentes de programas desenhados ou pelo
governo federal ou estadual. É preciso, portanto, articulação política para
estabelecer um pacto de ação para uma escolha de projetos prioritários para as
regiões metropolitanas. Visando uma
integração de políticas públicas e ações
articuladas em três áreas prioritárias – mobilidade e logística, saneamento
ambiental e habitação (Valor – Especial Megacidades. Sexta-feira, 30 de março
de 2012 G1 – Soluções Viáveis – Genilson Cezar).
A falta de planejamento
urbano
As pessoas normalmente
escolhem onde morar sem conexão, com o local de trabalho, e isso exige um
grande deslocamento diário. Isso favorece ao surgimento de grandes problemas na
área de mobilidade, moradia, inclusão e segurança entre outros fatores. Por
exemplo, 20% da população urbana do Brasil vive em favelas e sub-habitações.
Carlos Leite, arquiteto, urbanista e professor da Universidade Presbiteriana
Mackenzie, citando como exemplo a região metropolitana de São Paulo, “uma
megacidade com altíssimo potencial de expansão, mas também com níveis de
crescimento dramáticos . (Valor – Especial Megacidades. Sexta-feira, 30 de
março de 2012 G1 – Soluções Viáveis – Genilson Cezar)
Como ampliar os limites dos guetos?
Os bairros da periferia
das grandes cidades estão isolados, sobretudo nos finais de semana em que as
companhias de ônibus urbanos restringem a quantidade de veículos em circulação.
Mas não é só, muitos bairros não possuem sequer um posto bancário, o que
estimula a criação e circulação de uma moeda própria e exclusiva do bairro.
Para ampliar os limites dos
bairros é preciso uma maior integração da comunidade com os gestores públicos e
privados e isso exige um repensar do bairro dentro do contexto da cidade.
E a nível macro, é preciso
urgente se repensar o nosso modelo de adensamento urbano, pois estamos no
limite do caos.
Em termos práticos, há a
necessidade de um esforço conjunto de comunidade e diversas associações: do
comércio, da indústria e sobretudo de serviços.
A sustentabilidade dos
aglomerados urbanos, requer investimentos pesados em infraestrutura, segurança,
habitação e saneamento. Além de saúde e educação. São muitos problemas que
emergem desta loucura que são as megacidades.
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