domingo, 15 de julho de 2012


O declínio da qualidade de vida nas grandes cidades – um desafio

Estaríamos vivemos em um enorme gueto?

Professor Marcos Cobra


Mobilidade urbana.

Na medida em que a mobilidade urbana se torna caótica, pelo transito emperrado, e pela crescente insegurança das cidades a vida das pessoas se torna limitada e com menor liberdade.
A vida em condomínios fechados,  inspira uma segurança ilusória, mas serve para um confinamento que cerceia a sociabilidade das pessoas. “Homem algum é um ilha”...
A cidade de S.Paulo, por exemplo, se expandiu além das fronteiras dos seus três rios que cortam o município, mas ainda tem enorme dificuldade de locomoção para dentro e fora dos seus limites. Esse confinamento é histórico, desde a época de isolamento da zona norte da cidade, que dependia de acesso pela ponte das Bandeiras e pelos trilhos da extinta estrada de ferro da Cantareira que da ponte Pequena ia até Jaçanã, bem depois de Santana, atravessando o Horto Florestal e destacado no samba do Adoniran Barbosa: “O trem das onze”...
“Sou filho único, e moro em Jaçanã, e se eu perder esse trem que sai agora às onze horas, só amanhã de manhã”...
Era pegar o trem ou não ter como chegar a casa. Hoje, os limites são decorrentes dos engarrafamentos sobretudos nos horários de pico, pela manhã do bairro para o centro e no sentido inverso no final do dia. Mas o engarrafamento já não tem hora, nem ponto da cidade.

Viver isolado das outras pessoas de uma comunidade, não é saudável. Hoje as pessoas se comunicam cada vez mais a distancia, seja pelo celular, por mensagens de texto, redes sociais ou por emails.
Como o recurso tempo tem-se tornado escasso, a sociedade tem cada vez menos tempo livre. Vivendo isolado,  em engarrafamentos, ou em condomínios fechados, o ser humano está se tornando um cidadão de segunda classe. Usufruindo pouco ou quase nada do que a sua cidade oferece, as pessoas fazem do bar ou restaurante, ou academia a sua pausa para o ilusório lazer.
  Dessa maneira, a sensação que se tem é de que vivemos em um enorme gueto, a cada dia com um espaçamento menor para se viver.
A ausência de mobilidade urbana em  diversas cidades do país está escancarando nossas deficiências  agora com maior intensidade revelada na mídia  em função da Copa Mundial de Futebol a se realizar em 2014.

E por que isso acontece?

Sobretudo porque falta uma gestão publica com uma visão integrada do negócio chamado qualidade de vida. Mas isso não se deve exclusivamente ao gestor publico que atravanca o progresso com a ausência de investimentos em infraestrutura, no ritmo que as cidades exigem. Isso faz parte também  da cultura do medo, e da fobia generalizada, como se vivêssemos em guetos.
A maior crise que vivemos é porque falta  competência gerencial em diversos níveis, não só no setor público. Mas é também uma doença psicológica estimulada pela excessiva divulgação de noticias ruim.   
Gestores públicos  mesmo privados, tem uma visão simplista e imediatista, nesse nosso país não se pensa em médio e longo prazo, e, portanto, os investimentos realizados, sobretudo habitacionais visam exclusivamente o curto prazo, aonde o lucro rápido é o principal objetivo do empresário imobiliário, e o gestor publico adota quase sempre medidas paliativas para ter visibilidade junto ao eleitor.

Mobilidade interurbana

Mas o cidadão não está confinado apenas na cidade em que vive, mas também tem dificuldade de se deslocar para outras cidades, quer por rodovias saturadas e mal cuidadas ou ainda por um transporte aéreo caro e inacessível, já que o transporte ferroviário interestadual inexiste.
Em nome da eficácia gerencial, as companhias aéreas estão cortando funcionários  e rotas, ou seja, diminuindo a oferta de assentos, para as pessoas circularem pelo país (vide Valor Caderno Empresas 28 de março 2012 p.B1: Gol enxuga malha após prejuízo de R$751 milhões – Alberto Komatsu).
Em função de um prejuízo recorde de R$ 751 milhões a Gol Linhas Aéreas Inteligentes está reduzindo sua operação total em 8 a 10%, ou seja, entre 92 e 115 voos de um total de 1.150 voos diários, que ela e a sua subsidiária Webjet realizam. Pode parecer um valor insignificante, mas com a diminuição da oferta de voos, muitas pessoas tendem a ficar no solo, sem disponibilidade de se deslocar, com a frequência e conveniência desejada, ou se sujeitar a gastar mais. 
Bem cabe aqui um comentário que se tornou um jargão, “se agora está assim, imagine na Copa Mundial de Futebol de 2014”
Sem perspectiva de solução no curto e no médio prazo, as pessoas das cidades vão se ajeitando para viver como podem, mas a cada dia mais estressadas.


Mas não é só, a nível metropolitano. A  nível regional e até mesmo nacional, a coisa também não anda bem. Os aeroportos são poucos e restritos, e muita cidade de médio porte não tem campo de pouso para aeronaves  maiores realizarem voos comerciais.
Criada na esteira do pós-segunda Grande Guerra, a aviação comercial brasileira logo deslanchou ao  se privilegiar, de um lado  dos aviões norte-americanos Douglas modelo  DC3 sucatas de guerra e de outro das muitas pistas de pouso que foram abertas para dar lugar a inúmeros aeroclubes , para a formação de pilotos. Isso se deu nos anos pós-guerra, mediante  uma intensa campanha do jornalista Assis Chateubriand, fundador da rede de comunicação e jornais Diários Associados. Esse esforço foi possível, pois havia uma nascente indústria aeronáutica criada pelo empresário Baby Pignatari, produziu-se no país os famosos aviões monomotores de 2 a 4 lugares, com armação de tubo de aço revestido com uma tela do tipo lona. Era o avião Paulistinha, produzida pela CAP – Companhia Aeronáutica Paulista. Nessa época a CAP chegou a produzir aviões de tubo e tela para até 12 passageiros. Um exagero, sem dúvida. Mas foi graças ao sonho de dois empresários um industrial e outro jornalista que o país se viu integrado pelas asas da aviação.
Hoje, no entanto se voa para menos localidades do que há seis décadas atrás. Muitos aeroportos foram abandonados e outros não foram modernizados para receberem aviões de médio para grande porte. Nos anos cinquenta, até mesmo municípios com menos de 10.000 habitantes, sobretudo cidades das estâncias turísticas, de Minas Gerais: São Lourenço, Poços de Caldas, são exemplo de ligações com o Rio de Janeiro e São Paulo. Havia nesse período voos regulares de diversas empresas aéreas como Nacional Linhas äereas, Lóide Aéreo, Varig, Real, Aerovias e outras mais. Ligando o interior de S.Paulo, do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina (a Sadia Transportes Aéreos foi criada para transportar lingüiça de suas fabricas em Chapecó para S.Paulo); de Minas Gerais, Bahia, e todo o nordeste e norte do país.
O isolamento a que muitas cidades são submetidas, não se deve apenas a falta de transporte aéreo ou ferroviário, se deve  não apenas a ausência de infraestrutura, mas também e principalmente a falta de gestão publica e até mesmo privada.
A maior crise que o país vive é a de ausência da noção de competência e competitividade.
Não apenas os gestores públicos tem uma visão simplista e imediatista. Pois nesse nosso país não se pensa em médio e longo prazo, e, portanto, os investimentos realizados visam exclusivamente o curto prazo, para ter visibilidade junto ao grande público.
Em nome da eficácia gerencial, as companhias aéreas estão cortando pessoas e rotas, ou seja, diminuindo a oferta de assentos, para as pessoas circularem pelo país. Como o transporte ferroviário inexiste, o que resta um transporte rodoviário massacrado pela péssima condição das estradas estaduais, municipais e federais.

As megacidades

As megacidades massacram as pessoas em nome do progresso.
Na ausência atual de planejamento e adequada gestão metropolitana, diversas mazelas tem tornado a vida nas grandes cidades um martírio, para quem vive e para quem circula eventualmente, como o turista desavisado.
O futuro das Megacidades.
Há um consenso de que é preciso se estabelecer um marco regulatório para se estabelecer projetos metropolitanos, no que diz respeito à gestao de ação política e a capacidade de investimento. Como tradicionalmente as cidades não dispõem de recursos suficientes para investir, eles são dependentes de programas desenhados ou pelo governo federal ou estadual. É preciso, portanto, articulação política para estabelecer um pacto de ação para uma escolha de projetos prioritários para as regiões metropolitanas.  Visando uma integração  de políticas públicas e ações articuladas em três áreas prioritárias – mobilidade e logística, saneamento ambiental e habitação (Valor – Especial Megacidades. Sexta-feira, 30 de março de 2012 G1 – Soluções Viáveis – Genilson Cezar).

A falta de planejamento urbano

As pessoas normalmente escolhem onde morar sem conexão, com o local de trabalho, e isso exige um grande deslocamento diário. Isso favorece ao surgimento de grandes problemas na área de mobilidade, moradia, inclusão e segurança entre outros fatores. Por exemplo, 20% da população urbana do Brasil vive em favelas e sub-habitações. Carlos Leite, arquiteto, urbanista e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, citando como exemplo a região metropolitana de São Paulo, “uma megacidade com altíssimo potencial de expansão, mas também com níveis de crescimento dramáticos . (Valor – Especial Megacidades. Sexta-feira, 30 de março de 2012 G1 – Soluções Viáveis – Genilson Cezar)

Como ampliar os  limites dos guetos?

Os bairros da periferia das grandes cidades estão isolados, sobretudo nos finais de semana em que as companhias de ônibus urbanos restringem a quantidade de veículos em circulação. Mas não é só, muitos bairros não possuem sequer um posto bancário, o que estimula a criação e circulação de uma moeda própria e exclusiva do bairro.
Para ampliar os limites dos bairros é preciso uma maior integração da comunidade com os gestores públicos e privados e isso exige um repensar do bairro dentro do contexto da cidade.
E a nível macro, é preciso urgente se repensar o nosso modelo de adensamento urbano, pois estamos no limite do caos.
Em termos práticos, há a necessidade de um esforço conjunto de comunidade e diversas associações: do comércio, da indústria e sobretudo de serviços.
A sustentabilidade dos aglomerados urbanos, requer investimentos pesados em infraestrutura, segurança, habitação e saneamento. Além de saúde e educação. São muitos problemas que emergem desta loucura que são as megacidades.



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