quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Socorro! Eu achei que estava em férias!

O período de férias escolares está se tornando um grave problema social e familiar. O caos nos aeroportos, nas rodoviárias e estradas, nos destinos turísticos, além de comprometer as “justas e merecidas férias”, provoca desgaste nas relações familiares... 

Com o aumento da renda da classe média e com o mercado vivendo situações de alto nível de empregabilidade, cada vez mais e mais famílias estão saindo de casa, em busca de lazer e prazer. E esses grupos de famílias são cada dia maiores. Os destinos turísticos formatados para recebê-los são basicamente os mesmos; tudo agravado pelo fato de o espaço livre disponível nas cidades estar se tornando cada vez menor.

É muita gente querendo viajar ao mesmo tempo, no final de ano e no inicio de janeiro, ou julho, em férias. Isso faz transbordar um dique já cheio até o limite. Os aeroportos são os mesmos e, pelo volume de passageiros, parecem absurdamente acanhados, pois os projetos de ampliação da infraestrutura aeroportuária no País há muito não acompanham a demanda.

Além do mais, os vôos programados para esse período não são ampliados na medida para que possam atender a essa demanda excedente e as companhias aéreas, ávidas para não perderem passageiros, exageram no overbooking permitido (aceitar reservas acima de 30% da capacidade de cada vôo).

Então, os momentos de caos, em que tudo começa a dar errado, se multiplicam. E o caos aéreo leva ao caos rodoviário, pois as pessoas, com medo de passar horas nos aeroportos, se deslocam para rodoviárias e rodovias, sobretudo no período de férias, quando a demanda por lazer se amplia notavelmente.

E o que seria um agradável momento de convivência familiar se transforma num inferno. 

Sofrimento e cansaço

É nas férias que as praias lotam; as  filas se tornam um martírio nos supermercados e shopping centers; nos cinemas, nos restaurantes e bares; e assim em sucessão até nas baladas. Os diversos caos se autoalimentam e se ampliam na medida que, em busca de socorro, os turistas saem para outros meios de transporte e de lazer: como um tsunami, uma avalanche de pessoas sai ao campo com uma fúria consumista a cada ano maior.

Com a classe C se tornando classe média, o fenômeno de demanda por lazer e entretenimento cresceu enormemente.

E o caos rodoviário invade as cidades praianas no verão e as de montanha no inverno; e o turista é obrigado a conviver com o caos.

São estradas cheias em que o transito não flui e chega a parar por horas. E ai, homens e crianças precisam fazer suas necessidades ao lado do carro, no primeiro matinho se disponível. Mas e as mulheres?
Cansado com o stress da rotina diária das principais cidades brasileiras superlotadas e com infraestrutura de transporte saturada, o cidadão no papel de turista, pensa em sair da rotina à procura de algo diferente. Ledo engano: o caos urbano acompanha os cidadãos em suas férias, que eles esperavam serem reparadoras.

Dessa forma, o melhor mesmo seria permanecer em suas cidades, no período em que todos vão em busca de férias.

O caos, que é diário nas grandes cidades, muda de lugar: as cidades de veraneio se tornam verdadeiro tormento na vida das pessoas.

A violência desce a serra contaminando praias ou sobe a montanha, de acordo com a temperatura meteorológica. Ruas lotadas, sem lugar para estacionar; flanelinhas (guardadores de carro) cobrando preços exorbitantes para “tomar conta” do veículo deixado na rua; preços dobrados nos restaurantes, hotéis e passagens aéreas. Enfim, é a hora do “salve-se quem puder”.

Uma solução radical seria o turista inverter suas preferências, indo para a montanha no verão, abrindo mão das praias, e, no sentido inverso, no inverno, procurando a brisa do mar, com praias mais vazias e restaurantes e hotéis com ofertas tentadoras. Por incrível que pareça, tem gente que faz isso: são poucas pessoas, mas elas existem; e olhe que elas conseguem bons momentos de lazer e prazer.

Amenizar o caos, mercadologicamente.

1.  O caos aéreo é pode ser evitado? 

A resposta é sim, claro que pode. Caso contrário, cidades como Nova Iorque, Chicago, Tóquio, Frankfurt, que costumam receber milhares de visitantes em determinados momentos, se tornariam inviáveis. Por que não seguir seus exemplos, aproveitar suas experiências?

Há momentos em que uma boa programação de vôos extras, devidamente escalonados, poderia acomodar melhor o passageiro. Alias, o nome já diz tudo: passageiro... Chamado de cliente por algumas companhias aéreas, esse ilustre cidadão, nesses momentos conturbados,  é tratado como desclassificado (ah!, seguramente, se o Comandante Rolim fosse vivo isso não aconteceria...). O pobre passageiro, responsável pelos salários dos empregados e pelo lucro das companhias, se transforma em mero número na estatística da Agência Nacional de Aviação Civil -Anac e das companhias aéreas. Tem-se a impressão de que, em momentos de caos, seus direitos desaparecem.

Já houve até uma Ministra do Turismo, do governo Lula, que recomendou para enfrentar os percalços do transporte aéreo: “relaxe e goze”... como se o caos possibilitasse algum orgasmo.

O aeroporto brasileiro, que já tem um serviço precário de alimentação e higiene, nos momentos de demanda aquecida, não tem como oferecer, mesmo razoavelmente, o mínimo necessário para matar a sede ou saciar a fome. Com vôos atrasados e cancelados, o turista é levado a um dia de fúria: perde o controle e extravasa sua raiva no primeiro atendente de balcão; e ai a grosseria vai e volta na mesma intensidade.  Agora, imagine isso na Copa do Mundo de futebol de 2014, com um fluxo incrível de turistas que virão acompanhar os jogos!!!!!

Na era do Comandante Rolim, fundador e Presidente da TAM Linhas Aéreas, isso há exatamente uma década, o passageiro era contemplado com serviço de canapés, água, refrigerante e um agradável pianinho, ou um saxofone, tocando musicas calmas na sua sala de embarque. Tudo ajudava a amenizar o cansaço de um eventual atraso ou cancelamento de vôo.  Com a “desrolinização” da companhia, tudo isso foi colocado de lado em nome do corte de custos.

A maneira de contornar o caos já foi praticada com muita magia: basta relembrar alguns bons e raros momentos de uma Varig prestimosa e de uma TAM sedutora na era o Comandante Rolim. Uma das suas frases favoritas, era: “em busca do ótimo, não se faz o bom”... Hoje não se faz, nem o bom... fica-se mesmo no ruim ou péssimo. E lá se foram o prazer e o lazer...

2.  O caos rodoviário pode ser evitado?

Certamente, falta-nos uma política de transporte rodoviário que facilite a circulação rodoviária de ônibus para os destinos turísticos e ajude as empresas a melhorarem veículos e serviços. Isso poderia aliviar as estradas. Bons serviços de transporte nos destinos ou facilidade de aluguel de carros também contribuiriam. Haveria menos carros nas cidades.

Atualmente, quem utiliza ônibus, costuma enfrentar algumas dificuldades. Os celulares têm pontos cegos em diversas rodovias e, portanto, não servem para chamar, ou melhor, para clamar por socorro. Em caso de acidente, não há como pedir socorro, apenas os gestos humanitários é que podem salvar vidas e isso de forma improvisada que pode provocar danos e seqüelas nas vitimas acidentadas.

Mas não é só, as filas intermináveis de carros, ônibus e caminhões revelam que as pessoas não estão preparadas para passar horas, paradas, sem água, comida, ou sanitário. A menos que o matinho esteja disponível e não acanhe as pessoas mais recatadas, sobretudo as mulheres e os idosos. E se houver um farnel a bordo com água e comida. Portanto, se vai viajar não se esqueça de levar água e algo para comer.

Como evitar o caos rodoviário? Vamos pensar juntos:
1.   Talvez, estimulando a busca da estrada fora dos horários de picos, tanto de ida como de volta;
2.   Sinalizando as entradas das estradas com aviso das condições de trafego, morosidade, tempo estimado de percurso e noticiando acidentes que possam retardar o tempo de viagem. Hoje, apenas as rodovias privatizadas oferecem esse tipo de aviso.
3.   Disponibilizando pontos de repouso nas rodovias, como existe nas principais rodovias americanas, com banheiros públicos limpos e lanchonetes variadas e espaço de playground para as crianças e bancos para o idoso.
4.   Impedir que as estradas se transformem em ruas e avenidas, com templos religiosos (no dia 1 de janeiro de 2012, o aeroporto de Cumbica na Grande S. Paulo se tornou inacessível e muitas pessoas perderam vôo em função da inauguração de uma igreja). Ou ainda proibir um comercio que dificulte a circulação de veículos. 

3.  Caos urbano nos destinos

Com a temporada de férias, chegam também  a fila do pão e do leite, congestiona-se tudo que pode ser congestionado. E afinal, o nosso Big Mac é o 4º.mais caro do mundo, só perdendo, segundo The Economist  para Suíça, Noruega e Suécia. Enquanto no Brasil, o Big Mac é vendido por US$ 5,68, nos EUA, ele sai por US$4,20, informa a Folha de S. Paulo de 13 de janeiro de 2012 (Caderno, A).

Há dificuldade de acesso aos principais roteiros turísticos das cidades brasileiras, como o Corcovado no Rio de Janeiro, afora uma série de pontos que não podem ser apresentados, pois, são de difícil formatação, seja pela falta de infraestrutura para acesso, seja mesmo pela ausência de segurança ao turista.

Enfim, é preciso entender que transporte, lazer é turismo fazem a maior parte do bolo do PIB brasileiro, em que serviços representam 67,4%, sendo que o restante, 32,6%, esta dividido entre o PIB da agricultura, 5,8%, e o PIB da indústria, 26,8%, de acordo com o Estado de S. Paulo, de 8 de maio de 2011 (caderno Economia).

Pode ser que a maioria dos legisladores ainda não se tenha dado conta, mas somos hoje um país de serviços. E a nossa infraestrutura sequer contempla um bom desempenho em logística; e os recursos alocados a saúde, segurança e educação não têm correspondido com bons resultados.

Mas o turismo representa uma boa parcela do PIB de serviços, com um desempenho muito concentrado em alguns destinos : São Paulo (1º.), Foz do Iguaçu (2º.) e Gramado (3º.), vindo a seguir Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza.

Portanto, é preciso fazer marketing das principais cidades destino do País. Contudo, enquanto os recursos em infraestrutura não saem, é preciso usar uma inteligência mercadológica para suprir deficiências. E proporcionar conforto e segurança ao turista interno e também ao turísta estrangeiro, sobretudo os que virão com a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro.

É preciso urgentemente, primeiro, ensinar, e depois, implantar a filosofia do prazer em servir... 

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